PT281 já era e agora? O que fiz desde então e os próximos objetivos...

Passados mais de dois meses desde o último post sobre a minha participação na PT281, volto a escrever neste meu “espaço”. De facto não tenho tido a mesma vontade de escrever, talvez porque acho que não tenho muito a partilhar, mas também porque estes meses têm sido algo difíceis no que toca aos treinos. 

Após a PT281 e aqueles incríveis 80kms feitos, o corpo ressentiu-se muito. Foram duas / três semanas difíceis, em que o treino foi deixado de lado e fiz umas “férias”, onde os treinos não passaram dos 30/40 minutos e com volumes de 20/30 kms por semana. Não parei totalmente, mas senti claramente a perda de forma assim que retomei os treinos com maior consistência. Prova disso foi um pequeno teste de 4kms que fiz em que fiquei completamente esgotado a correr a um ritmo de 3:29/km.



Obviamente que não era de estranhar esta quebra depois de fazer 80kms num prova, algo que nunca tinha feito, para o qual não tinha experiência e por muito boa preparação que possa ter feito, a recuperação iria custar, como de facto custou.


Depois de algumas semanas de treino, comecei a sentir-me melhor, mais solto e com outra capacidade para retomar treinos mais intensos. Finalmente regressei aos treinos de séries e fartleks, algo que não fazia, imagine-se, desde março, antes de confinamento! 🙂


No início de setembro voltei a fazer treinos com maior qualidade, estando a melhorar a minha forma. Surge então o evento do GFD Running para um treino competitivo de 10kms no dia 20 de setembro, para o qual recebo o convite do Ernesto Ferreira, a quem agradeço. 


Apesar de não me sentir na melhor forma e nem era tempo para tal, vi ali uma boa oportunidade para fazer um bom teste e ver até onde conseguia ir.


Depois de mais umas boas sessões de qualidade, sentia-me bem fisicamente para esta “prova”.


Tendo em conta as medidas de restritivas atualmente em vigor, o treino foi dividido com blocos de partida com grupos de 10 elementos (será que não é por aqui que se terá de ir para que volte a haver provas de estrada?). Tive a oportunidade de sair com atletas claramente superiores a mim, o que não foi fácil 🙂 obviamente que o primeiro km foi rápido demais (3:12), pagando caro nos subsequentes. Mesmo com um km tão forte, fiquei para trás no grupo, tendo depois seguido junto com o amigo Paulo Garcia, com quem fiz os restantes kms quase sempre em conjunto. 

Na parte final senti o desgaste, tendo sido 2/3kms muito difíceis, o que indicia bem ainda o quanto tenho para melhorar. No final acabámos com um tempo alguns segundos abaixo dos 35’, o que só me posso orgulhar pela fase de treino em que me encontro.


Atividade Strava:


Sinceramente saí destes 10kms bem mais confiante e motivado para melhorar. Só posso agradecer pelo convite do GFD Running, na pessoa do Ernesto Ferreira, e dar os parabéns pela organização espetacular deste evento informal, que foi muito bem organizado. 👍


Após uns dias de recuperação, com treinos leves, continuo a treinar com foco e determinação. Sem provas no horizonte, fica o objetivo de querer melhorar, a ambição de me superar e acima de tudo ter prazer em treinar e correr.


Sobre objetivos a médio prazo (diga-se pós-pandemia), seguramente não voltarei a provas longas tão depressa 🙂o meu foco está em provas mais curtas e de estrada, onde gostava de melhorar o meu tempo oficial aos 10kms (34:29 a 8-março uma semana antes do confinamento). No horizonte estão os 33 minutos, vamos ver se tenho pernas para lá chegar 😉

PT281: 33h14m de superação!

PT281 Ultramarathon: muito mais do que uma ultramaratona. Este regresso às provas não podia ter sido melhor numa das melhores provas de ultra endurance do mundo. Adorei ter feito parte desta prova e ter participado com os amigos do CCDR Colmeal da Torre numa grande aventura, um desafio constante. Se foi duro? Muito! Um constante desafio às nossas capacidades, mas também um grande aliciante fazer uma ultramaratona deste nível.

A foto que melhor descreve aquilo que foi a minha experiência na PT281, muito esforço, superação, desafio, desgaste e muuuuito calor!


A história da minha participação nesta prova começou há alguns meses quando o amigo Hélio me começou a desafiar para participar na equipa que ia à PT281. A primeira resposta foi um redondo não! Nunca achei que fosse o meu caminho, uma vez que é uma prova muito dura, com demasiados kms, mesmo sendo em estafeta de 4, totalizaria em média cerca de 70kms, o que é de facto muito mais do que uma maratona, distância máxima que tinha feito à data. Obviamente que são provas feitas num regime diferente, com velocidades bastante mais baixas, com muita alternância entre corrida e caminhada, mas não deixam de ser 70kms!

Com a situação de pandemia e com a crescente possibilidade da prova ainda se poder vir a realizar, associada também ao desafio que lancei (e fiz) dos 100kms em 48h, no qual muitos dos membros do clube participaram, acabei por me convencer que talvez até fosse uma boa ideia participar numa prova diferente como é a PT281. Eu sou essencialmente corredor de estrada, onde me sinto melhor, mas também tenho gostado de fazer alguns treinos de trail. Ora a PT281 é um misto de estrada e trail, com muito do percurso em estrada e estradões na Beira Baixa.

Com a cada vez mais provável realização do evento, ficou fechada a minha participação na equipa de estafetas, juntamente com os amigos Filipe Guerra, Hugo Antunes e Miguel Gonçalves.

Assim, voltei o meu foco nas últimas semanas para um tipo de treino diferente, onde os treinos longos ganharam mais peso e com muito mais acumulado do que o habitual. Alguém imaginava ver-me a fazer treinos de 30kms com mais de 1.000 D+? 😀 Pois, acabei por fazer alguns nos últimos tempos e confesso que gostei da experiência, embora continue a preferir treinos em estrada, de velocidade.

Com o aproximar da prova, começaram a chegar também as muitas dúvidas que tinha sobre o que era necessário para participar numa prova destas, desde material, aspetos a ter em atenção, recomendações / melhores práticas... tive de aprender e pesquisar bastante, comprar material que simplesmente nunca tinha precisado, desde a mochila de hidratação, frontal ou o pisca pisca. Para além disso, necessitava também de atestado médico, o que é normal para uma prova destas.

Entramos na última semana antes da prova e já com o pensamento em todos os pormenores... o número de kms diminuiu drasticamente, passei a ingerir mais hidratos, a tentar beber bastante mais água, descansar bem e, claro, fazer massagem antes da prova para me apresentar nas melhores condições. Para isso contei como sempre com o JF Massagista para uma boa massagem na terça-feira de pernas e costas.

Tudo pronto e já com muita vontade de viajar até à Beira Baixa para começar logo esta grande aventura! Viajei na quarta-feira ao final do dia. Uma curiosidade foi ter passado Vila Velha de Ródão, um dos locais de passagem da prova, e ter reparado que às 19h30 estavam 35 graus! Impressionante e ao mesmo tempo assustador.

Chegado a casa dos meus pais, depois de jantar, encontro-me com a equipa em Belmonte. Como ainda não tinha tido oportunidade de testar o GPS para a prova, tivemos de combinar uma caminhada no percurso que começa no Castelo de Belmonte para eu me ambientar à navegação com o GPS. Era de facto algo que me preocupava, uma vez que nunca tinha tido a experiência de fazer um treino nessas condições e se sairmos da rota, pode ser difícil conseguirmos retomar, perdendo muito tempo que nos pode custar caro... foi de facto uma preocupação que só passou já no decorrer da prova, onde me saí bem, tendo tido poucos problemas.

Chega o dia D! A prova começa às 18h, dando tempo para um excelente almoço em equipa, onde pude conhecer alguns elementos do staff do Clube e onde estiveram também presentes mais dois colegas que iam participar na prova, o João Artur Tomáz, da página Nós Vamos Lá Estar, e o campeoníssimo João Oliveira, “apenas e só” o tetracampeão da PT281! Respect 💪

Depois de duas horas de descanso, chegava finalmente o momento de iniciar esta grande aventura!

São 17h30, sente-se algum nervosismo e ansiedade na equipa e nos dois elementos que vão fazer a prova a solo, o Hélio Costa e o Pedro Santos, natural numa prova desta dimensão.

Após o briefing da organização e do discurso do Presidente da Câmara de Belmonte está na hora de dar início ao maior desafio de corrida para quase todos nós! 18h00 em ponto e começa a prova com a saída dos atletas do Castelo de Belmonte!

O Filipe é quem inicia a nossa prestação, tendo como árdua missão fazer as duas primeiras etapas, Belmonte - Sabugal e Sabugal - Penamacor, com um total de 85kms e cerca de 1.900D+! São números impressionantes, mas ao alcance de uma máquina como o Filipe! 💪

Castelo de Belmonte, local de partida

Vestido e equipado a rigor!

A esta hora o calor ainda se fazia sentir, com temperaturas superiores a 30 graus, pelo que a primeira parte desta etapa seria mais difícil.

Para dar uma força a todos os que entraram em prova, parámos no km 8 de prova. Aí o “pelotão” já ia alongado, com os favoritos a assumir a frente. O Filipe passou momentos depois, ainda a gerir bastante o ritmo, sem grandes pressas, ainda faltavam muitos kms...
Vimos ainda outros atletas, como o João Oliveira, Vitor Rodrigues, Luca PapiAmaro TeixeiraJoão Artur TomázCarlos Miguel Figueiredo, o "Perneta" Carlos Cardoso, do blog Papa Kilometros e claro, o Hélio Costa e o Pedro Santos! 💪

Próxima paragem: Sortelha, km 18 de prova, já com uma distância grande entre os atletas. Passa em primeiro o Bruno Coelho já com alguma vantagem, indo bastante forte. Alguns minutos depois passa o Filipe juntamente com o Amaro Teixeira. Nesta fase, estávamos em segundo nas equipas. O Filipe parecia ir descontraído. Conseguimos ver ainda mais uma série de atletas que aproveitaram para se refrescar com água logo após a entrada na muralha de Sortelha. Este era o último ponto intermédio onde íamos cruzar-nos com os atletas.

Seguimos para a base da vida do Sabugal, km 36, onde o Filipe e o Amaro Teixeira apareceram às 21h58. Foi uma etapa muito bem conseguida, mas fiquei preocupado com a forma como o Filipe estava. Parecia cansado, o que era normal depois de 36kms onde a primeira parte tinha sido debaixo de bastante calor, ainda assim, pareceu-me ver algum desânimo. O facto de não estar a 100% por uma lesão no joelho era também motivo de preocupação. Mas havia que permanecer confiante. Cerca de 20min depois, seguem de novo juntos.

Aguardámos também a chegada do Hélio Costa e do Pedro Santos, que vinham muito bem. Boa disposição não faltava. 😀

Boa disposição sempre presente com o Hélio Costa e o Pedro Santos!

Relativamente à frente da corrida, passou de novo o Bruno Coelho em primeiro com uma boa vantagem. De seguida passou o Vitor Rodrigues e o Rui Luz. Paragens curtas e seguiram para a segunda etapa. Grandes máquinas!

Nós seguimos diretamente para a base da vida seguinte, em Penamacor, aos 84kms. Esta é a etapa mais longa com mais de 48kms! Não ia ser fácil, mas o Filipe ia conseguir.

Após alguns kms constatamos que o Filipe está a ficar mais longe das duas estafetas que seguiam à frente. Ficámos algo apreensivos, estávamos com receio que estivesse a passar mal.

Entretanto o Hugo e eu aproveitámos para tentar dormir, embora não fosse fácil, a ansiedade era grande. O facto de estarmos há tanto tempo à espera de outro colega é algo complicado, criando um nível de ansiedade grande, pelo que correr em estafeta também acaba por ter um desgaste emocional grande, embora não se compare com a prova individual, claro.

Entretanto o Romeu Afonso, o nosso apoio na prova, diz-nos por volta das 1h40 que o Filipe lhe perguntou a que distância estava da primeira estafeta. Já eram mais de 5kms, ao que o Filipe responde que vai tentar alcançá-lo. Neste momento o Filipe estava com cerca de 62kms, estando o primeiro classificado na estafeta nos 67kms.

Para mim parecia algo impensável recuperar esta desvantagem em cerca de 22kms. Mas estamos a falar do Filipe... 😉

Após uns 3/4 kms o Filipe já estava a 3kms! Depois de mais alguns kms, distava 1km do objetivo. E julgo que foi a partir do km 77 que o Filipe alcançou a equipa líder da estafeta! Foi incrível! Que grande demonstração de força. Só posso dizer: Filipe, és uma máquina!

Até ao km 84 ganhou ainda alguns preciosos minutos. Foi de facto uma parte final muito forte. O Filipe chegou super cansado e exausto, mas com uma grande prova efetuada. Na geral, contando com os individuais, o Filipe tinha chegado em sétimo! De relembrar que não estava fisicamente na sua plenitude devido à sua lesão, pelo que nem imagino o que poderia ter feito estando a 100%.

Grande esforço, amigo!

O Filipe chegou às 3h53 e era hora do Hugo entrar em ação, numa etapa que ligava Penamacor a Penha Garcia num total de 37kms. Estava assim mais próxima a minha hora de entrar em ação e isso fez-me ficar ainda mais desperto, sem vontade alguma de dormir.

Hugo pronto para partir, grande máquina!

Depois de uns minutos o Romeu e eu saímos de Penamacor e seguimos até ao km 93, onde íamos dar um ânimo ao Hugo. Após uns minutos de espera, estava quase a chegar ao ponto onde nós estávamos. Minutos passaram e o Hugo não aparecia... começámos a ficar preocupados... depois de mais uns minutos vemos que o Hugo saiu da rota! Ficámos assustados e ligámos-lhe. O Hugo diz que está dentro da rota... algo não bate certo. Depois começamos a pensar que o percurso carregado no GPS não era o mais atual e pedimos ao Hugo para colocar o percurso total (até então estávamos a usar os percursos repartidos por etapas) e foi aí que o Hugo confirma que estava fora de rota. Ora, isso implicou então voltar atrás e perder algum tempo para retomar ao local correto e fazer o percurso conforme o que mostrava o livetracking.

Com este contratempo perdemos a pequena vantagem que tínhamos e passámos para segundo na estafeta. Não era preocupante, porque faltavam muitos kms, mas acaba por ser algo que mexe connosco, começam a levantar-se dúvidas e ficamos mais impacientes, o que é normal quando algo não corre como nós queremos.

Entretanto o Hugo segue a bom ritmo, com 2kms de atraso face à estafeta, mas nos kms seguintes começa a aproximar-se.

Aguardamos novamente perto de Monsanto e o Hugo já está bastante mais perto do primeiro classificado de estafetas naquele momento.

Estamos confiantes que talvez possa chegar a Penha Garcia em primeiro e felizmente assim veio a acontecer.

Chegamos a Penha Garcia e vou logo comer. Estava esfomeado. Como duas sandes de chouriço acompanhadas com água. Depois de ir à casa de banho duas ou três vezes, começo a preparar todo o material para a minha primeira etapa que vou iniciar dentro de minutos.

Começo a prever que o Hugo chegue por volta das 8h, mas depois de um desvio da rota que o obriga de novo a voltar atrás e a perder mais alguns minutos, chega às 8h22m.

Nesse momento já dois atletas a correr individualmente tinham saído da base da vida, o Vítor Rodrigues e o Rui Luz. Estavam ambos a fazer uma grande prova. Julgo que o Vitor saiu às 8h05 e o Rui às 8h20.

Eu saio às 8h25. Saio bastante acelerado, tanto no ritmo como emocionalmente. Com a espera que tive, estava muito ansioso e não estava fácil controlar.

Os primeiros kms foram muito rápidos, eram planos e a minha adrenalina estava em níveis muito elevados. Penso que os primeiros 5kms foram feito a uma média de 4:15/4:20!

Nestes primeiros kms o meu grande objetivo era alcança o Rui Luz, segundo classificado individual, que sabia ter saído de Penha Garcia poucos minutos antes de mim.

Mas incrivelmente, km após km, não o encontrava e comecei a achar bastante estranho. Não achei normal, uma vez que continuava a andar bem e não acreditava que o Rui pudesse ir num ritmo tão forte, afinal de contas ele já levava mais de 120kms nas pernas.

O calor começa a intensificar-se e eu começo a acalmar-me e a tentar controlar mais o meu ritmo cardíaco, que andava nos 150, o que não era de todo o ideal. Tento gerir bem as subidas, diminuindo o ritmo, acelerando um pouco nas descidas e em plano.

Ao longo dos primeiros 10/15kms confesso que fui olhando para trás para confirmar se tinha alguém por perto. Não conhecia as equipas de estafetas, nem as suas características, pelo que tinha receio que se estivessem a aproximar.

Entretanto chego aos 10kms com cerca de 44:30, um pace abaixo de 4:30! Começo a achar que estou a exagerar e posso vir a pagar caro este esforço. Com o calor o ritmo também vai baixando, mas ainda assim sigo quase sempre abaixo de 4:50/5:00.

Por volta do km 12, começo finalmente a avistar alguém à minha frente! Mas não era o Rui Luz... era o Vitor Rodrigues, o primeiro classificado individual, que tinha saído cerca de 15mins antes de mim. Fiquei bastante surpreendido e confuso, porque não vi o Rui Luz. Talvez tenha saído de rota por momentos e não o vi por isso? Não sei, mas a verdade é que estava prestes a passar para primeiro lugar de todos os atletas em prova.

Passei pelo Vitor, pergunto se estava bem, ele diz que sim, que vai gerir o esforço, alternando corrida com caminhada, pois sabe que tem o famoso “Vale da Morte” à sua espera (etapa entre Idanha-a-Nova e Lentiscais, onde se atingem temperaturas muito elevadas, dificultando muito a progressão).

Nisto mantenho o meu ritmo e avanço a passos largos para chegar a metade da distância desta etapa.

Alguns metros após ultrapassar o Vitor entro num estradão completamente cheio de pó depois de uns segundos antes ter visto passar lá um camião. Foi arranjado há pouco tempo e isso faz com que qualquer passo levante pó, principalmente um camião! Foram uns bons kms sempre nesse estradão onde fiquei com os pés cheios de terra, porque assim que pisava em algum local mais remexido, o meu pé afundava na terra, entrando terra nos pés, para além de dificultar a manutenção do bom ritmo que mantinha, desgastando-me ainda mais.

Depois de passar esta fase, só queria ver a equipa, que se ia cruzar comigo a meio do percurso, para tentar saber quanto tempo tinha de vantagem. Só não sabia em que km eles iriam estar... finalmente por volta do km 18 encontro-os com a minha pergunta imediata a ser “qual é a nossa vantagem?”, não imaginava que a resposta fosse esta “uns 7 ou 8kms”! Só consegui sorrir e ficar mais confiante para o que ainda faltava. Ainda estava a pouco mais de metade, mas a motivação crescia e o ritmo andava nos 4:30/4:40/4:50...

Estava no km 24 e começo a ver no horizonte Idanha-a-Nova, faltam cerca de 9kms, o calor aperta bastante e estou prestes a entrar na estrada que me leva até lá. Sei que vou ter uma descida grande antes de chegar a Idanha, mas ainda faltam alguns kms com terreno relativamente plano. Nesta fase os dois flasks de 500ml de água já tinham acabado. Não tinha vontade de tomar qualquer gel (só tomei um aos 10kms), mas estava a ficar com muita secura, pelo que começo a beber do depósito de água. Até ao final bebi bastante água, o calor assim o obrigava...

As pernas começam a ficar cansadas, os pés começam a doer, já não estava nada confortável e vejo o ritmo a baixar para os 5:00... finalmente ao km 27 começo a descer, o que ajudou um pouco. Comecei a pensar que teria de andar, mas estava a evitar isso pelo menos até começar a subida para a Idanha, que é ao km 30/31. Mas quando chego à placa que indica 2kms até Idanha, comecei a andar por uns segundos. Estava já demasiado calor e só me estava a desgastar. Tinha cerca de 3,5kms pela frente, com a maioria a subir. Ligo ao Romeu e digo-lhe que esta parte final com a subida será a andar, para não estranharem eu demorar. 😅

Começa a subida... mas qual subida? Aquilo era uma parede! Foi mais de 1km a andar, era impossível sequer fazer um trote e também não ganharia grande coisa com isso. Fui tentando andar relativamente rápido, era o melhor que podia fazer... depois deste bocado mais difícil, chego ao centro de Idanha e aí começo a alternar entre corrida e caminhada. O relógio indica-me 32,5kms, estava bem próximo da base da vida e já começava a tentar vislumbrar a equipa no horizonte, mas ainda tive de aguentar mais uns metros até finalmente ver o Romeu! Estava quase, quase! Finalmente faço uma pequena volta para entrar na base da vida e encontro o Hugo e o Miguel, que rapidamente retiram o tracker da minha mochila, o Romeu troca as pilhas do GPS e volta a configurar o percurso para o Miguel começar aquela que foi a etapa mais difícil das 8, que liga Idanha-a-Nova a Lentiscais, o chamado Vale da Morte! Cheguei às 11:12, tendo feito os 33kms entre Penha Garcia e Idanha-a-Nova em cerca de 2h47, com pace de 5:02/km (segundo o meu relógio). Lembro-me que antes de iniciar a subida para Idanha, estava com um pace a rondar os 4:44/km, o que foi de facto muito interessante para esta etapa.

Depois de acabar estava de rastos e só quis hidratar-me. Bebi água fresca, repousei uns minutos e alonguei as pernas. Não estava fácil! Tinha uma pequena dor que me parecida vir do solear esquerdo, tinha os músculos das coxas bem doridos e estava de facto bem cansado.

O Romeu e o Hugo dizem-me que a segunda estafeta está a cerca de 13/14kms, o que me deixa super contente. Estávamos todos bastante mais descansados relativamente à nossa classificação. 🙏

Nesta base da vida podia tomar banho e foi o que pensei fazer para tentar recuperar. Fui buscar as minhas coisas e, depois de entrar no balneário, sentei-me uns minutos, comi duas barras de proteína, pensei um bocado no que tinha feito e achei que de facto tinha exagerado. Contudo, também foi esse exagero que nos deu alguma margem para agora estarmos mais tranquilos para o que restava da prova (estavam cumpridos 156kms, faltavam 124kms).

Depois do banho, volto a hidratar-me e aproveito também para uma massagem, que me soube muito bem.
O Vitor Rodrigues chega às 12:05 à base da vida. Parece-me continuar muito bem e lançado para ganhar a prova! 💪

Eu estava recomposto, era hora de partir. Encontramo-nos com o Romeu e seguimos para Lentiscais.

Vamos acompanhando a evolução do Miguel, seguia a bom ritmo, mas esta etapa é muito longa e dura. São 46kms feitos ao calor, com temperaturas que chegaram aos 45 graus! É de facto doloroso só de pensar. Mas o Miguel ia de facto muito bem! 💪

Chegamos à base da vida de Lentiscais e ainda estava fechada. Estávamos com outro problema, a base da vida era um pouco fora de Lentiscais e ninguém tinha rede no local, não conseguíamos acompanhar a corrida. Além disso, não havia sombras nenhumas, estava muito calor, portanto, após comermos uns queques, resolvemos ir para Lentiscais para podermos acompanhar a prova e estarmos num local mais fresco.

Encontrámos um café aberto e foi onde ficámos por algum tempo. Fomos acompanhando o que se estava a passar no livetracking. Entretanto reparámos que a segunda estafeta tinha chegado a Idanha-a-Nova às 14:04! Em resumo, no início da quarta etapa, tínhamos 10min de vantagem e acabámos com cerca de 2h50! Foi de facto uma excelente vantagem.

O Miguel continuava a evoluir muito bem. Impressionante como ele estava a conseguir manter um excelente ritmo com o calor que estava! Começámos a ver que ele talvez conseguisse chegar a Lentiscais às 16h, o que seria incrível!

Por volta das 15h decidimos voltar à base da vida, que continuava fechada. O Hugo começou a preparar o material para a sua segunda etapa e aguardávamos tranquilamente a chegada do Miguel. Até que o Miguel tenta ligar ao Hugo, mas nós estávamos sem rede. Nisto ficámos nervosos! Voltámos para a carrinha e vamos novamente para Lentiscais para ter rede. Finalmente conseguimos contactar o Miguel, que diz que está muito cansado e já não consegue correr! Tentámos dizer-lhe que pode vir devagar, pois temos cerca de 30kms de vantagem para a segunda estafeta. Ficámos mais apreensivos, o Miguel estava a cerca de 10kms da base da vida, já não era muito, mas o calor era tórrido e já eram muitas horas!

Voltámos de novo à base da vida e o Hugo acaba de preparar-se para a sua etapa. Eram cerca de 16h30, faço contas que o Miguel chegue por volta das 17h. O Romeu e eu decidimos ir novamente a Lentiscais para confirmar no livetracking se estava tudo ok. Confirmamos que o Miguel está a cerca de 3kms. Decidimos aguardar uns minutos até o vermos no horizonte. O Miguel já vem muito cansado e vemos que está bastante pálido. Vinha em claro sofrimento! Vinha a andar lentamente... estávamos preocupados com ele. Dizemos-lhe que tem cerca de 2kms até à base da vida, estava quase!

Voltámos para a base da vida e aguardamos que ele chegue. Entretanto, uma pessoa da organização chegou à base da vida. Perguntámos-lhe se tinha visto o Miguel e diz que não! Ficámos novamente nervosos! O Romeu e eu voltámos apressadamente para a carrinha e seguimos de novo em direção a Lentiscais, donde teria de vir o Miguel. Pensámos que se tinha perdido... até que damos com ele de novo, tinha um braço ferido e disse que tinha caído! Ainda mais preocupados ficámos. Ele estava a cerca de 800m da base da vida, mas pareciam 8kms, tanto para ele, como para nós, que estávamos muito preocupados com ele!

Após mais uns 10 minutos o Miguel chega à base da vida e passa o “testemunho” ao Hugo, que segue para a sua etapa. O Miguel estava esgotado e pedimos desde logo assistência para o ajudar. Depois de uns 20/30mins e muita água, estava a voltar ao normal. Foi um grande susto, mas felizmente não passou disso. 🙏

Que esforço! És grande Miguel!

Voltando à corrida, o Miguel chegou às 17:38, foram cerca de 6h30 de etapa, sendo os últimos 10kms feitos em cerca de 2h, naturalmente devido ao desgaste causado pelo calor que o fez parar para descansar e fazer esta última parte quase na sua totalidade a caminhar. Independentemente disso, foram 6h30 ao calor, com temperaturas a chegar aos 45 graus! A correr em bom ritmo durante 36kms! Foi fantástico! Grande espírito de sacrifício e capacidade de sofrimento! Só podemos dar-lhe os parabéns e admirar o seu esforço! 👏👏👏

Depois de voltarmos novamente o foco para a corrida, seguimos viagem para Vila Velha de Ródão, zona de partida para a minha segunda etapa.

Restava no entanto uma dúvida relativamente à condição física do Miguel para fazer a última etapa da prova. Tinha desidratado muito no Vale da Morte e poderia ser um grande risco fazer a última etapa que, apesar de ter cerca de 24kms, tinha mais de 1.000D+, o que impunha respeito.

Ao chegar a Vila Velha de Ródão, a base da vida ainda estava a ser organizada e aproveitei para descansar 20mins no carro do João Oliveira, que nós trazíamos desde Belmonte a seu pedido, enquanto esperava pela restante equipa que foi buscar o Filipe, que tinha ido descansar depois dos duríssimos 85kms.

Quando chegaram, aproveitámos para conversar e comer. O Hugo ainda demorava algum tempo, uma vez que a sua etapa foi parcialmente feita ao calor, obrigando-o a uma boa gestão de esforço, tendo até em conta o que o Miguel sofreu na etapa anterior. Assim, calmamente o Hugo foi progredindo, tendo aumentado o ritmo na parte final da etapa.

Na nossa conversa discutimos a questão do Miguel fazer ou não a última etapa, sendo a única alternativa ser eu a fazê-la, uma vez que o Filipe estava muito desgastado dos 85kms e limitado com a lesão no joelho. Depois de analisarmos, decidimos em conjunto que o melhor para equipa seria eu fazer a última etapa também. Não seria fácil, nem conseguiria fazer um excelente tempo, mas infelizmente concordámos que seria a melhor alternativa porque o Miguel estava de facto ainda fustigado com a desidratação do Vale da Morte e podia custar caro arriscar fazer uma etapa com aquelas características. Assim, aceitei de imediato a missão e mentalizei-me que seria preciso gerir bem o ritmo para não fraquejar na última etapa. Eram cerca de 50kms com mais de 2.000D+, nunca tinha feito tanto acumulado, pelo que seria um grande desafio, mas aceitei-o de imediato com todo o espírito em ajudar a equipa e fechar a prova com o melhor resultado (tempo) possível!

Estava também algo receoso porque ia fazer as duas etapas de noite. Fiz apenas um treino à noite para testar o frontal e nunca testei o GPS, sem ser os 20min de quinta-feira. Havia a hipótese de sair da rota e perder bastante tempo, mesmo que não fosse naquele momento uma preocupação no que toca à classificação, mas havia um tempo a abater: 34h07m conseguidos no ano passado e isso estava no nosso radar. 😉

Depois de preparar todo o material para começar a sétima etapa que ligava Vila Velha de Ródão a Montes da Senhora, tento descontrair, mas estava de novo a ficar ansioso, com muita vontade de me fazer à estrada.

Apesar desta ansiedade, sentia os olhos pesados, natural para o que tinha sido uma noite quase em branco, com pequenos períodos de descanso. Era mais um fator que me preocupava, uma vez que a falta de sono pode-nos levar a quebras de raciocínio que poderiam fazer-me perder tempo.

Estava quase a anoitecer, o clima estava perfeito para a longa jornada de corrida que tinha pela frente e só queria mesmo começar. Depois de uns minutos de espera, o Hugo está a chegar! Estamos já no “lusco-fusco” e o Hugo passa-me o “testemunho” (tracker). Antes ainda apanho um grande susto quando reparo que não tenho o dorsal comigo e começo a entrar em pânico, porque não me lembrava onde o tinha colocado em Idanha-a-Nova! Procurámos no carro do João Oliveira e na carrinha de apoio e felizmente o Romeu encontrou-o! 🙏 Agora sim, tudo preparado para seguir viagem rumo a Montes da Senhora.

Começo com muita vontade, mesmo sabendo que ia ter uma longa subida pela frente. Sigo em bom ritmo, com o relógio a marcar ritmos de 5:30/km, muito boas sensações, pernas em boa condição, apesar do desgaste da primeira etapa. O clima estava perfeito para correr e estava a ser um momento muito prazeroso. Eu sei que parece mentira para quem já fez a PT281, mas estes 5/10kms iniciais, apesar de duros pelo acumulado, foram os melhores de toda a prova, senti-me muito bem.

Por volta do km 7, aparece a equipa na carrinha de apoio a dar-me uma força. Penso que eles próprios sentiram que eu estava a ir rápido demais, mas eu estava super confortável naquele ritmo. Só ao km 12 numa subida mais acentuada senti que era melhor caminhar porque não ganhava nada em me esforçar para além do que era aceitável naquela fase da etapa, sabendo eu que dentro de poucos kms teria a parte mais dura da etapa.

Essa parte mais dura começou por volta do km 14,5. Saí da estrada, onde fiz toda a primeira parte da etapa e entrei num estradão de terra batida, ou seja, lá ia eu para o meio do monte. 😁

Aqui começa a progressão a ser cada vez mais lenta, fruto de passar novamente por estradões que tinham sido limpos há pouco tempo, fazendo com que enterrasse os pés no pó e ficasse com as sapatilhas cheias de terra, para além da dificuldade em andar num terreno que parece um deserto onde os pés ficam “pregados” ao chão! Foi de facto uma dificuldade que não tinha imaginado que fosse ter... com este tipo de terreno com uma boa inclinação, restava-me ir andando e sempre que possível trotar.

Por volta do km 16 o Romeu liga-me! Se me está a ligar é porque estou fora da rota, pensei... era precisamente isso que ele está a ver no livetracking, mas no GPS eu seguia bem e sem qualquer desvio. Começo a pensar se teria alguma bifurcação antes e não me lembro de ver... combinámos continuar mais uns metros e esperar por nova atualização do live tracking, pois poderia ser alguma imprecisão. Felizmente era mesmo disso que se tratava, estava no caminho certo e só tinha de continuar! 💪

Os kms iam passando e só ouvia os meus passos, cigarras e grilos, por vezes uns barulhos vindos dos arbustos, suponho de algum bicho que se assustava comigo (mas eu não me assustava com ele 😁), e sentia ter o “monte” só para mim. Ia contando os kms para o final, mas sabia que por volta do km 20 teria uma “amiga” à espera... essa “amiga” tinha cerca de 300D+ em cerca de 2,5kms! Impunha respeito, mas tinha a ínfima esperança que o piso fosse minimamente bom para impor um passo rápido, correr já sabia que seria quase impossível, até porque as boas sensações estavam a desaparecer, mas esperava andar rápido... não passou de uma esperança, o terreno era de novo mau, com a terra remexida e os pés a enterrar, restava-me tentar avançar o mais rápido que me era possível, mas não estava fácil.

Estava com 21kms nas pernas, uma meia maratona que neste contexto parece ser uma mão cheia de nada, tal é a dimensão de uma prova destas. Ainda assim, sendo eu principalmente um corredor de estrada, penso sempre nestas métricas, até para me motivar a progredir rumo à meta! 💪

Continuo a subir a minha “amiga” de Montes da Senhora, sempre a passo, lentamente, com os minutos a passar. É de facto algo do qual não gosto, mas é inevitável numa prova deste género. Há que progredir da forma possível e neste terreno, com este declive e com o cansaço acumulado, só resta caminhar o mais rápido que consigo. Começo a controlar pelo relógio há quanto tempo estou a subir e pela memória que tinha do perfil de elevação, a subida deveria terminar aos 22,5kms, mas não foi o que aconteceu! Sabem como é quando uma expectativa sai ao lado? Pois, foi o que senti nesta fase. Só queria que acabasse a subida, mas tive de aguentar-me mais um (!) km até que finalmente chego ao “ponto de viragem” e inicio a descida. As minhas pernas já estavam cansadas e ainda tinha cerca de 3,5kms para chegar à base da vida. O pior é que não ia ficar por aí, havia mais uma etapa para fazer! Naquela fase não estava fácil... imaginem-me às 00h00 no meio de um monte, sozinho, na segunda noite com muito pouco descanso, para não dizer nenhum, com perto de 60kms nas pernas, que estavam bem doridas, a força mental não era muita. Restava-me pensar que estava perto da base da vida, mas nem isso era muito bom, porque depois da descida, teria mais 1km muito duro a subir até lá chegar... bom, um pé a seguir ao outro e vamos... 😊

Entretanto vou olhando para o relógio para controlar o tempo. Na minha cabeça tinha um número: 3horas por etapa... na primeira tinha conseguido, na segunda pensei que conseguiria sem problemas, mas fui anjinho! 😇 Os últimos 12kms desta etapa foram muito lentos, natural tendo em conta o tipo de terreno, a elevação e o cansaço. Portanto, a cerca de 1,5km não sabia se ia conseguir esse objetivo... depois de terminar a fase mais difícil da subida, entrei em Montes da Senhora, estava perto de finalizar a etapa, acelerei o passo e lá cheguei à base da vida com 2h58m! Consegui! 🙏😎

Eu sei que não é propriamente relevante o tempo que fazemos nestas provas, pelo menos para a maioria dos atletas, mas para mim foi uma mini-vitória, um pequeno alento para me sentir mais motivado para o que ainda me faltava.

Chegado à base da vida, a equipa ajuda-me no reabastecimento - essencialmente encher os flasks com água, uma vez que só tinha consumido um gel e tinha ainda mais dois comigo. Mudar as pilhas do frontal, que tinha começado a falhar no último km da etapa, e do GPS, que foi rotina em todas as bases da vida.

Perguntaram-me o que queria comer e eu sinceramente não sabia... queria beber água, claro, mas não sabia se devia comer. Primeiro porque ao km 22 da etapa que tinha finalizado senti-me um pouco enjoado com o gel que tinha tomado ao km 10, pensei mesmo que ia vomitar, mas felizmente passou. Depois não sabia se o meu estômago ia aguentar comer naquela fase, mas optei por arriscar e comer uma sopa e que bem me soube!

Não conhecia esta etapa, apenas sabia que tinha mais de 1.000D+ em cerca de 24kms, pelo que pedi para me dizerem como era o perfil. Vi que tinha 3kms ligeiramente a descer e posteriormente teria uma subida mais longa até ao km 8, sendo o restante percurso um pequeno carrossel de sobe e desce.

Com isto digo ao Romeu que estava a contar com ele nos últimos 10kms (na última etapa a organização permite que o atleta seja acompanhado), pelo que psicologicamente eu ia fazer mais 14kms e depois era a sua companhia que ia fazer a diferença.

Antes da partida para a última etapa

Cerca de 11mins na base da vida, estava pronto para voltar à estrada e seguir rumo à meta em Proença-a-Nova! 💪

Eram 23kms, menos um do que eu pensava, sendo 13kms sozinho e 10kms acompanhado pelo Romeu. Este era o meu “refúgio” para ir combatendo a dificuldade de mais uma etapa noite fora depois de uma noite com muito pouco descanso, uma etapa ao calor num ritmo impróprio para uma ultramaratona (acho eu) e muito stress que fomos tendo ao longo de toda a prova! Lembro-me de ver o relógio e marcava 00h50. Comecei a fazer contas, queria acabar a etapa abaixo das 3h, não era fácil, mas estava bem ao alcance, até porque não eram tantos kms...

Começo a correr e as sensações não foram más, sinal de que aquela pausa até fez bem. À medida que os kms passavam, ia contando quantos faltavam até encontrar o amigo Romeu. Nos primeiros kms fui descendo e o ritmo ia muito bom, mas sabia que teria uma subida mais longa por volta do km 8. Fui sempre abaixo de 6:00/km, um bom ritmo para aquela fase adiantada. Quando começa a subida não havia outra hipótese que não fosse andar... foi mais um km duro, mas faltavam 5kms para ter companhia, era o meu alento! Mas não foram 5kms quaisquer, esta etapa era duríssima pelo constante sobe e desce.

Depois de feito este esforço, entrei numa terra, novamente uma subida, onde aproveitei para comer uma barra de tâmaras, que me soube pela vida... metros depois vejo finalmente a carrinha de apoio donde sai o Romeu para me fazer companhia nos últimos 10kms!

Uns metros depois houve uma pessoa que me quis tirar uma foto! Sim, uma foto! Foi a única foto que alguém me tirou ao longo de três etapas! É estranho? Eu achei, quando vejo constantemente centenas de fotos espetacular da PT281...

Seguimos o Romeu e eu a bom ritmo, sempre que era possível corríamos em plano e descida, enquanto nas subidas íamos a andar. Eu já estava bem moído, mas a companhia do Romeu deu uma grande ajuda, parece que ganhei uma nova vida e sempre que possível conseguia colocar um ritmo razoável...

A minha respiração já ia bastante acelerada, estava de facto bem cansado, as pernas muito doridas, já me custava muito a descer por ter de aplicar mais força a travar o movimento. Mas estes kms foram bastante bons. Ia olhando para o relógio e contando os kms que faltavam. O percurso continuava a ser sinuoso, sempre a subir e a descer, mas estávamos próximos da meta...

Achei estranho não ver ainda Proença-a-Nova, mas o Romeu disse-me que só iríamos ver quando estivéssemos mesmo a chegar... Sabia que me esperava ainda uma subida difícil a chegar a Proença-a-Nova e de facto foi feita a andar. Depois finalmente começamos a ver casas e aí já não havia dor que resistisse, retomámos a corrida e fomos até perto do final a correr, onde apanhámos uma última subida, antes de virarmos e vermos a meta onde a restante equipa já nos esperava.

Assim chegámos todos juntos a meta e fechámos a prova em 33h14m:






Custou a ganhar, mas valeu a pena! 😍

Depois de uma série de fotos e vídeos, lembrei-me que ainda tinha uma dedicatória a fazer! Prometi ao Hélio Costa dedicar-lhe um sprint no final da minha participação na PT281. Era para ser em Montes da Senhora na subida, mas com as alterações, ficou na meta. Assim, fiz uma nova chegada à meta com um sprint a 3:00/km, fica o vídeo: 😁


Foi muito por culpa do Hélio que acabei por participar nesta aventura! Foi duro, muito diferente do que estou habituado, mas uma grande experiência para recordar, por isso muito obrigado, Hélio! 🙏🙏🙏


Ficam as atividades no Strava:



Esta foi mesmo só para o Hélio 😁

Depois de terminada esta grande aventura, foi hora de chegar a casa e dormir umas horas. Nas horas seguintes comecei a sentir as dores musculares, ganhei literalmente um andar novo! 🙈 Como coloquei no facebook, se fiquei assim com 80kms, não imagino com 281! Mas não vou querer saber, pelo menos nos próximos anos não faz parte das minhas prioridades... 😉

Agora é hora de descansar, aproveitar o Verão e fazer apenas corridas leves para manutenção, até que me apareça mais um desafio!

Notas finais e agradecimentos:

Em primeiro lugar agradecer à Lili pelo seu apoio e pedir desculpa pela ausência, principalmente neste período que se tornou especial, como alguns sabem.

Agradecer aos amigos e equipa do CCDR Colmeal da Torre por esta fantástica experiência. Foi de facto um prazer poder representar um clube do meu concelho numa prova desta importância. Agradecer também por me terem “recebido” tão bem, muitas das pessoas que não me conheciam, senti-me muito bem integrado na equipa.

Agradecer aos meus familiares e amigos que nos foram incentivando antes, durante e após a prova.

Dar os parabéns ao Hélio Costa e ao Pedro Santos por concluírem esta prova duríssima e com uma excelente classificação (21 e 22 lugares!).

Dar os parabéns a todos os que concluíram a prova, que por si só é um feito incrível! São muitas horas, um esforço enorme e é preciso de facto uma grande vontade e entrega para conseguir finalizar esta prova. É de herói!

Dar os parabéns e agradecer a toda a equipa e staff pela forma como conseguiram arranjar excelentes condições logísticas para a nossa participação.

Dar os parabéns ao Vitor Rodrigues pela grande vitória com um tempo espetacular de 39h04m! Segundo melhor tempo de sempre. Foi um prazer conhecê-lo pessoalmente, eu que já o admirava, ainda mais o fiquei a admirar. Parabéns igualmente ao Rui Luz pela grande prova que fez, ficando a poucos minutos do Vitor (39h48m), tendo sido o ano mais renhido e em que pela primeira vez houve dois atletas abaixo das 40h!

Fotos com o grande vencedor da PT281, Vitor Rodrigues!

Agradecer aos patrocinadores e apoios institucionais por nos terem permitido realizar o nosso sonho de chegar à meta em Proença-a-Nova.

Agradecer ao meu massagista e amigo JF Massagista por toda a ajuda antes, durante e após a prova.só com o suporte de pessoas assim conseguimos apresentar-nos bem em provas com esta exigência.

Agradecer ao meu mister David Silva porque muito do que evolui no último ano se deve a ele! Foi de facto uma evolução fantástica que me permitiu chegar a esta prova com uma condição física muito boa para fazer o que fiz!

Agradecer ao Alexandre Andrade, Helder Gonçalves e JoséMonsanto por terem sido eles também um grande suporte nesta aventura, desde o treino de Santarém a Fátima, as dicas importantes para a prova, no que toca a material e outros aspetos a ter em consideração, até ao acompanhado que foram fazendo da prova e com quem fui trocando mensagens, onde recebi o incentivo deles.

Por último, uma palavra para a organização: muito obrigado por terem conseguido realizar esta prova em plena pandemia! Foi espetacular podermos “esquecer” por umas horas a pandemia (com todas as precauções) e termos focado na corrida, desligarmo-nos de tudo o resto e preocuparmo-nos em fazer a prova das nossas vidas. Tudo isso só foi possível graças a vocês.

A descrição é longa, mas quis contar tudo aquilo que vivi nesta prova fantástica, para mais tarde recordar o que foi viver esta experiência da PT281, além do mais...


Pedro Amaro