Caminhos do Tejo: Santarem a Fátima... não há prova, faz-se em treino!

Ultramaratona dos Caminhos do Tejo... os 57kms entre Santarém e Fátima era o meu grande objetivo para este ano antes, do confinamento ter feito com que tudo fosse por cancelado (ou pelo menos adiado)... ora, não se pôde fazer em prova, mas pode-se fazer em treino! Com uma grande vantagem: ir com amigos e aproveitar para nos divertirmos durante umas boas horas rumo a Fátima. 

Depois de confirmado o cancelamento da prova, decicidimos fazer o seu percurso em treino. Inicialmente já tínhamos planeado fazer os últimos 30kms, a parte mais dura da prova, o que seria uma grande ajuda para mim de modo a conhecer o que me esperava na prova. Esse treino não se veio a realizar devido ao confinamento e depois da prova ter sido cancelada, deu-se o mote para o treino ser com a distância total da prova de 57kms.

O quarteto fantástico!

E quem melhor para me acompanhar do que um ultramaratonista que já participou por três vezes nesta prova? Sim, escrevi bem, três vezes! Por duas nos 144kms e uma nos 57kms, o Alexandre Andrade já fez esta prova, conhecendo bem "os cantos à casa" 💪

O amigo Hélder Gonçalves, após o cancelamento da Maratona de Berlim, também garantiu presença e, tal como eu, estreou-se em distâncias superiores a 42kms. Este menino tem "apenas e só" 2h48m à maratona, 33' aos 10kms e fico-me por aqui 💪

E ainda o grande José Monsanto, máquina de "papar kms" que tem como objetivo chegar ao final do ano sem dias em branco, ou seja, treinar todos os dias de 2020. Claramente vai bem lançado e já o estou a ver a fazer um segundo ano nessa condição, que máquina! Aliás, este treino foi apenas mais um e notou-se pela energia no final que estava à vontade para fazer mais uns kms 💪

E depois eu, o gajo que achava que este treino não ia ser assim tão difícil, mas parece-me que me enganei... 🙈


Chegou o dia...

5h20, toca o alarme do relógio e acordo para o dia mais longo de corrida que alguma vez tive. Depois de me vestir e tomar o pequeno-almoço, confirmo uma última vez se tinha tudo o que precisava. Sem experiência neste tipo de distâncias, onde a necessidade de equipamento é naturalmente muito maior, quis confirmar que tinha tudo o que me lembrasse que podia ser útil. Ao mesmo tempo queria também levar o material que normalmente é obrigatório para uma prova para testar o que é andar com uma mochila mais pesada nas costas. Isto é particularmente relevante uma vez que nunca levei tanto peso comigo, sendo um dos pontos ao qual é preciso habituar-me para eventuais provas que faça deste tipo.

6h e encontro-me com o Alexandre e o Zé para seguirmos em direção a Fátima, onde vamos deixar um carro e encontrar-nos com o Hélder, para depois fazermos a viagem até Santarém noutro carro e começarmos a nossa aventura. 

Para meu espanto, está nublado e durante a viagem reparo que chove na zona de Santarém. Nem sequer tomei atenção ao tempo no dia anterior. Não levei qualquer corta vento ou impermeável, fui inocentemente de singlets. Felizmente o tempo melhorou, não choveu e até esteve bastante aceitável para correr, tendo apenas aquecido durante a tarde, ainda assim suportável.

Vamos lá começar!

Chegados a Santarém, iniciámos o nosso treino junto ao local de partida e lá vamos nós para umas boas horas de corrida e diversão.
Antes deste treino nunca tinha passado das 3h12m de duração de corrida, pelo que sabia que ia bater largamente este tempo. São muitas horas a correr, mas felizmente a ritmos suaves, o que pode ou não ser positivo, isto porque para alguém habituado a correr a ritmos entre 4:00 e os 5:00/km, correr a ritmos mais baixos altera bastante a nossa postura de corrida, implicando um esforço maior para determinados músculos que não estão habituados a tal noutros ritmos.

Isto tudo para dizer que após os primeiros 20kms e uma primeira paragem, já estava a alongar as pernas, porque sentia os músculos fatigados de estar a fazer um esforço diferente do qual estou habituado. Não sou especialista, nem o consigo justificar, mas parece-me que esta dor de pernas se deva ao ritmo a que corremos nesta primeira parte do treino.
Existe ainda o fator do comprimento da passada (diminui) e do número de passos (aumenta), que acredito que também se alterem considerando o ritmo mais baixo, criando um esforço adicional para mim.

Não quero com isto dizer que correr rápido é que é bom, mas efetivamente sinto-me bem mais confortável, o que também só faz enaltecer o esforço de quem faz treinos mais lentos, que acaba por levar o corpo a um esforço maior (pelo menos mais prolongado).

Bem, passando esta parte mais técnica do tema, falando do treino, para ninguém adormecer...

Durante os primeiros 20kms não tirei fotos, pelo que não há registos. Nem sequer me lembrei disso, deve ter sido por causa de meter a conversa em dia com a malta 😁

Neste primeiro terço do percurso, de referir que andámos bastante tempo em estrada e estradão de terra batida. Piso bastante regular, praticamente sem subidas, excelente para impor um ritmo sempre certinho, à volta de 5:45/5:50, permitindo manter uma boa e animada conversa.

Ao km 21 temos uma primeira subida, com o Hélder a querer suar a camisola 💪 fui com ele e subimos a bom ritmo (talvez a 5:00/km)

Parece que nem acabou de fazer uma subida de 1km sempre a puxar, máquina!


Ainda estava com ar de quem acabou de subir uma montanha...

As máquinas!

Depois de aguardarmos pelos companheiros de etapa, seguimos novamente na galhofa mais uns kms até pararmos numa fonte para "abastecer" e com um companheiro improvável:



Todos alegres 😎

2h30, 24,5km, ritmo tranquilo, mas as pernas já estavam a "moer"...

De referir que todo o percurso está muito bem sinalizado, não fosse este o caminho para Fátima onde passam milhares de pessoas. Assim, ao longo do percurso fomos vendo as indicações do número de kms que faltavam para terminar a nossa "missão".
"Só" faltam 30kms...

Por volta do km 28 fizemos uma "pausa" na corrida e aproveitámos para comer enquanto andávamos. Mais uma componente nova para mim, uma vez que nunca tinha parado num treino para comer, mas tinha de ser, são muitas horas e kms a correr, é preciso assegurar uma boa alimentação e hidratação. 

No que toca à hidratação, a Camelbak que levei com cerca de 2L de água estava a ser suficiente até ao momento. Apesar de não estar muito calor, estava a tentar hidratar-me bem.

O que não estava a correr bem era a Camelbak... não me sinto nada confortável a correr com "aquilo". Para além do peso extra, o atrito que criou durante a corrida era grande, ao fim de uns kms já sentia os ombros bem "massacrados", decididamente não gostei desse aspecto...

Após uma zona mais técnica e pouco limpa, onde tivemos dificuldade em encontrar caminho certo para seguirmos em frente, chegámos à Praia Fluvial de Olhos d'Água, um "paraíso" que não pudémos alcançar, porque havia mais de 25kms a percorrer até Fátima 😓

Houve quem quisesse ficar por aqui, não foi Hélder? 😁

Acabámos por parar e beber uma "gelada", no meu caso de água, no caso deles, de cevada 😀

Depois de nos despedir do "paraíso", tínhamos logo uma bela subida à nossa espera, que começámos a fazer a andar, antes de voltarmos a correr... Essa subida levou-nos a Monsanto, onde fizemos nova paragem para "abastecer" nesta bela fonte:


Monsanto tem uma bela vista 😉

Saindo de Monsanto temos nova subida, onde eu e o Hélder metemos novamente um ritmo mais vivo e lá fomos nós... A partir deste ponto começámos a seguir neste registo, fazíamos alguns kms num ritmo mais elevado, alternando com caminhada enquanto o Zé e o Alex nos alcançavam. Desta forma senti-me bastante melhor das pernas, apesar de já as sentir bem doridas, senti-me melhor quando corria a ritmos aos quais estou mais habituado.

Com mais de 32/33 kms, ainda íamos todos contentes 😁

Os próximos kms seriam mais duros, como o Alex me tinha mostrado no gráfico de altimetria do relógio. Teríamos uma súbida bem dura antes de chegarmos a Minde. Mas não esperava que fosse tão dura...

Estão a ver ali ao fundo o que íamos subir...

Após mais uns kms, eu e o Hélder estávamos uns metros adiantados e deparámo-nos com uma rampa bem duríssima, era o início da subida... após um metros a correr, optámos por andar... conversa puxa conversa e passámos uma indicação dos CT que indicava para entrarmos num trilho... não fosse o Alex e o Zé tínhamo-nos perdido 🙈
Entramos no trilho e aí foi sempre a caminhar até ao final da subida. Achei esta a zona mais difícil de todo o percurso. Depois de quase 40kms a correr, ter de subir esta "parede" não é fácil...

Em fila indiana,,,

Estas indicações acompanharam-nos ao longo de todo o percurso, é impressionante a quantidade de indicações existentes, o que torna tudo mais fácil

Depois da subida, vem a descida e esta vista brutal sobre Minde 😍

A descer todos os santos ajudam, ou talvez não...

Poucos metros depois vem mais um trilho super técnico até chegarmos a Minde. Não gostei propriamente, mas não me incomodou tanto, até porque sou algo "maluco" a descer 😀

Chegamos a Minde com uma maratona nas pernas e com fome...

Estava na hora de pararmos e comermos qualquer coisa, algo que o Alex tinha planeado. Curiosamente, o Filipe Torres (blog Quarenta e Dois Ponto Dois) tinha estado em Minde há duas semanas, tendo estado na Tasca do Chico. Ora, foi mesmo lá que fomos parar e comer uma bela bifana acompanhada de umas minis (no meu caso, Coca-Cola, eu sei, é para meninos 😜).

Bifanas da Tasca do Chico

Depois desta pausa de cerca de 40mins, custou levantar da cadeira, mas tinha de ser... faltavam mais uns 16/17kms, mas seriam duros, a começar pela longa subida assim que saímos de Minde.

Após uns metros a andar, decidimos retomar a corrida, ainda com a bifana no estômago e outros com o adicional de 3 minis 😁

Eu e o Hélder voltámos a correr um pouco mais rápido e fomos subindo em bom ritmo. A subida não é tão dura como a anterior, nem tão técnica, mas era bem longa. Após mais uns bons kms, voltámos a andar e caminhámos por um bom tempo até ao final da subida.

"Só" faltam 15kms!


Já não estava com boa cara...

É por ali!

Bem perto das eólicas, sinal de que já estaríamos no cume, ufa!

Os kms seguintes foram maioritariamente planos em estradão de terra batida, com uma ou outra subida. Nesta fase o cansaço já era acentuado, mas estávamos cada vez mais perto do objetivo.

Placa mágica de 10kms!

Esta mereceu destaque, 50kms percorridos!

Com este tempo, começava a pensar que talvez terminássemos abaixo das 8h00, apesar do cansaço já ser grande, estávamos a fazer uma boa parte final, mesmo com a subida após Minde.

Os maiores animados para fechar o treino 💪

Entre corrida a um ritmo mais acelerado e caminhada, estávamos cada vez mais próximos de Fátima...

5kms... 😍


Finalmente começamos a ver placas de Fátima e sentimo-nos mais perto do nosso objetivo, até que finalmente vemos a placa do último km:

Dentro de uns metros já estamos a ver ao Santuário de Fátima e começamos a controlar o relógio para ver tentar chegarmos abaixo das 8h


O Zé parece que tinha começado a correr, está uma máquina! 💪

Já a poucos metros do fim, o Alex levou-nos até à meta da prova, onde finalmente fizemos a festa! 🙌





Hora de celebrar com mais uma mini (ou Coca-Cola para os meninos...)! Foram quase 8h de corrida, onde nos divertimos à grande e fizemos uma bela "prova" em modo passeio. O Hélder e eu tivemos uma bela estreia em distâncias superiores a 42kms!



Quase 8h a correr, Minha Nossa Senhora de Fátima! 😱


E sem dar por isso, apanhei um belo escaldão 🤦🏻‍♂️

Em resumo, forma quase 60kms espetaculares, com amigos que não via há mais de um ano, tendo sido uma aventura brutal de início ao fim. No final as pernas doíam, mas no geral sentia-me bem. Se me dissessem se queria fazer mais uns kms? Não, nem pensar! Mas foi uma experiência muito boa e uma ótima forma de ter uma noção do que me espera quando fizer este percurso em prova, no qual quererei fazer boa figura 😉💪

As máquinas no Santuário! 💪


Como registo a assinalar, para além de ter sido o treino mais longo, seja em distância, seja em duração, coincidiu com uma marca simbólica: 10.000kms no total desde que comecei a registar as minhas atividades (abril-2015). Portanto, demorei 5 anos para alcançar esta marca. Quanto demorarei para chegar aos 20.000...? 🤔



Atividade no Strava:

Um abraço e boas corridas,
Pedro Amaro





2 comentários:

  1. Espetacular, fiquei cansado só de ler a vossa aventura. Parabéns a todos.

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    1. Obrigado Pedro ;)

      Um desafio diferente que valeu muito pena, pela distância e companhia nesta aventura.

      Um abraço

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